sábado, 31 de outubro de 2009

Stairs

Repare como esse bonde anda diferente
Trocaram as palavras abafadas por nuvens
Haviam sinais de fumaça que, nus, vinham
Assim como o olho que, nu, vem

Ruas entradas e avenidas calçadas
Distantes eram, assim como a distância ia
Dito em estância nas entrelinhas
Como a ânsia de ser o que não podia


      C
           H
    O
             V
         I
       A

Bicas de água fria do seu bico mordiscado


Media Player: Radiohead - Reckoner

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Souvenir

Tenho meu desjejum entalado
Fui dormir contigo e acordei com outra
Meus braços, pernas e restos de gente se foram
Como tiras de papel ao léo, muy cruel
Quando paro e penso, chego a conclusão:
Será que teu relógio funciona igual ao meu?

[pausa intrigante]


Originalmente postado no maravilhoso Agora Quando


Media Player: Muse - United States of Eurasia (+ Colateral Damage)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Terapêutico 2


Andava não pelo chão, mas por linhas, observações e denotações feitas na noite passada. Conversava e gesticulava consigo, como se houvesse duas pessoas distintas, sendo que uma arrumava o fone debilitado pelo tempo e a outra remexia a mochila cheia de desnecessariedades. Era uma manhã amena, coisa deveras incomum por aqueles cantos. Pensava nos rabiscos feitos pela caneta às 19:30 e nas mensagens recebidas às 9:00...tudo muito misturado. Informações liquidificadas que precisavam ser remontadas. Tinha medo. Muito medo. Toda manhã era o começo de uma epopéia urbana conduzida por personagens espirituosos, saudosistas, humoristas, egoístas, sistemáticos, maldosos, entre outros, muitos outros. Nem todos eram dignos de grande respaldo. Sempre fazia o exercício de mudar para o outro lado da rua porque era interessante ver o que se passava do outro lado, pois as nuvens eram diferentes, os cães latiam diferente, as donas regavam suas plantas de outro jeito e os carros...bem, esses continuavam a barulhar o ambiente do mesmo modo de sempre. Já longe de casa, enquanto rumava, gostava de observar as pessoas deslocando-se para seus destinos cotidianos (a pressa como combustível do compromisso diário), os perfumes agradáveis, e os nem tanto assim, as moças e suas silhuetas suntosas capazes de quebrar os pescoços dos rapazes, os comerciantes informais com a sua lábia malandra e voz tonante, os idosos que padeciam perante a falta de respeito, os inúmeros detalhes que compunham aquele grande caos organizado chamado sociedade. Todo dia só não era o mesmo dia porque os números do calendário mudavam. Em tempos como aquele, só uma palavra era conforto: perseverança.


Media Player: Incubus - Pantomime